4 de nov. de 2016

eva, lilith e a serpente

eva sussurrava entredentes
medos e pecados deslindados
nos vastos
entre tantos devastados

a serpente num canto sibilava

deslizando a língua bífida
na pele branca e ávida

o vento lilith sopra velha alquimia
esquerda eu adivinho

meu sátiro sorria


* Imagem : Milo Manara

espelho baço



num caleidoscópio de vícios
tuas palavras caem

alegres bombas
fragmentos de sentido
estridulando teus ecos

feito melancolia dissonante
quimera sorridente

basta fechar os olhos
as orações tilintam e
impassíveis

caem feito chuva
nos cacos de espelhos baços

enfeitando nuvens de incêndio
teus olhos refulgem no vitríolo

ícones despedaçados

2 de nov. de 2016

enredada



O beijo que te dei
Era prenhe de certeza
Repleto de dúvidas


O beijo que te dei
Era feito de nada
Pleno de tudo


O beijo que te dei
Era minha alma
Repleto de mim

Epifania



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querido


sei bem que não te amo,
mesmo quando te chamo assim
guardo teu olhar e meu susto
num frasco

o vidro reflete essa coisa nua e estranha
repetes no escuro o que já sei. 

Não te amo, amor

recitas cantilenas febris e obedeço à calma
traças amarras rendadas nos meus lábios
mas são teus olhos, honey.

não te amo.

agendamos ao acaso esse desencontro, essa fome
nisso concordamos. Carne, alguma alma e tuas mãos
esparramadas no prato minhas novenas cifradas

é libertador não te amar, Love.
 Confesso.
pode comer essa menina fosca, essa ninfa
essa estranha que entrevejo e amo

e só aparece nos teus olhos.


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fé chinfrim


Sonhei contigo ontem ou foi você que sonhou?
Já não sei mais de tão misturada ao teu olhar

Sei que sonhei

Filme mudo misto de Tarantino e Godard
Nós dois no meio do entrevero

Versos bárbaros, teus e meus
Deslindavam o temor
Tricotando fantasias de mármore

Nossas loucuras combinadas
Compunham beatices defumadas
Perfumadas pela minha fé chinfrim

erros



escrevo longas cartas
discretas e várias
em que rasgo meus silêncios

bilhetes natimortos
repletos de traços picotados
erros inconfessáveis

você não as lê

prefere que remeta meus dedos
meus beijos envelopados
abraços selados

os erros caem sem ruído
numa festa de enganos

confetes coloridos

passeiam pela tarde
e parecem repetir
nossas conversas

vagos e inválidos
seus pensamentos
destrincham minha pele
e minha rima

suavemente

poesias ocas


fecho meus olhos
ninguém me vê
escondo-me

confortável no negrume

tua voz morde minha orelha
é vicio que desliza
trazendo correntes
de fantasmas vazios

farfalham no escuro
ecos dessas conversas

poesias ocas esquecidas
ressonam pelos cantos
acalentam meus terrores

desisto e desentendo
aprumo frágeis paliçadas

idéias chegam e fogem
rápidas e tesas

razões pouco razoáveis
sussurram teu nome

respiro fundo

- Muralhas seriam melhores

31 de out. de 2016

era uma vez...




  era uma vez...

num desses dias
em que o tempo caía assim
vadio e morno

tudo parecia mortiço
azul e estridente
afundávamos num silencio movediço

num desses dias
repleto de verdades latentes
reticente e terno

fingia lotear abismos
quando nos vimos
nos inventamos

sombras que somos

fantasmas vagos
impenitentes  guerreiros

armados de medo e versos nus
meus olhos  acordaram
e alheios seguiram a música

tua língua
teus malabarismos

inventei uns risos frágeis
eram quebradiços, bem sei

sem cor , cheios de vícios
desfaziam-se ao sol

mas, ao meio dia
enchiam precipícios