24 de fev. de 2024

naufragada







Minha cabeça roda
Entorpecida
Naufragada na escuridão
Afundando-se cada vez mais
No temor e angustia

Meus olhos nus
Vagueiam tontos
A espera de uma luz
Querendo fugir
Ou apenas gritar

Minha voz embargada
Agarra-se à garganta
Sem forças
Sufocando o grito
Hipnotizando a inquietação
Matando a esperança

Depois vou dormir,
depois vou acordar,
depois vou trabalhar

e depois vou voltar.

Poema de Rosa Cardoso

amém




é complicado ser casual
quando os olhos deslizam
leves
sem pedir aprovação

falamos do tempo
teu olhar desce pelo decote
e meu sorriso
disfarça com precisão
descaso estudado

a boca fala de nadas
importantíssimos
e você vê
perplexo
usos
encaixes

falamos
viagens
crises
palavras

coisas tão pequenas
que te salvam
os anjos sorriem

lembro do tempo
em que cega
viajei contigo de olhos bem abertos
embalada e perdida

é complicado ser casual
com essa coisa
por dizer

Rosa Cardoso

olhar futuro






Sol Azul

Céu dourado

Mar translucida mente púrpura


Tudo em seu lugar

Vago até seus olhos futuros


...em algum lugar

você me vê...

ou talvez me pressinta.


Pendurado numa estrela

quase me toca.

poema de Rosa Cardoso

impreciso



Tantos desejos
Tantos sonhos
Preciso não cansar


Sonhos fugidios
Imagens de cometas
Preciso não sonhar

Tantas ideias
Tantas contradições
Preciso não pensar

Tantas imagens
Inquietas e doces
Preciso não precisar

poema de Rosa Cardoso

presente






Se viesses me ver 
Se tivesse que ser
Seríamos o pôr-do-sol

Embrulhados nas cores 

Acasos dos ocasos

Voando nos ventos

Seríamos abril
ou maio
ou dezembro

 Queríamos agosto

Embalados e tesos
 bolhas-beijo

Pacotes extraviados
aterrariam aterrados

 Milhas antigas 
de deixas perdidas
encerrariam o ato
...se viesses  ver...

poema de rosa cardoso

avesso das coisas








queria que contasse
o que vê do alto

desenhos traçados na areia
linhas confusas

essas que se embaraçam
nos meus passos

trançam meus cabelos
que me prendem aqui
no avesso das coisas

queria não ouvir
as canções gritadas no vento

essas notas dissonantes
que me enlaçam
prendem do lado avesso

a pantera fugiu
sou apenas a sombra da fera


descompasso





acho que o tempo
esse mesmo
que me cobra
está errado

acho que meu tempo
está errado
errei na contagem

desde ontem
conto e reconto
não consigo
acertar meu tempo

não consigo acertar
meu pulso


Poema de Rosa Cardoso

20 de fev. de 2024

Quaresma




na quadragésima hora
as badaladas avisaram
que chegavas
cobri teus olhos

panos arroxeados
sombras e flores
te escondiam da ressurreição
em que tateavas

dedos longos que escapavam
deslindando pele e sonho
tuas asas de anjo torto
a me adivinhar!



Rosa Cardoso