6 de out. de 2016

white lies


fantasma vago
ponto cego
no canto do olho

desaconteço

o mundo adolesce
treme e eu encolho
num canto desse quarto crescente

fotos, câmeras, manifestos
desvarios roucos
punhetas entrópicas
afogam ofélias

insepultas e castas
flutuam dormentes
recitando cantigas mortas
versos inúteis

resgatam insetos
riem dos manifestos
rasgam incunábulos
repletos de promessas

fatos, atos, ratos, mortos
falos, otelos, ralos, ateus

cubro teus ouvidos
protejo tua pele nua
enquanto danças evitando
roletas poliglotas
filtro meu olhar em verbos
traçando esses caminhos intransitivos

“quem lê tanta notícia?”

devassa





dividi teu nome

sílabas

letras

espasmos
em
partes miúdas

até perder o sentido

resumi
com minúcia

4 de out. de 2016

filigranas de luar

filigranas de luar


                                                                               Imagem_Zhaoming Wu



na rua quieta a lua se espalha
beijando de leve, com calma e gozo
os muros da cidade

é tão tarde!

escuridão e luz dançam inconstantes
num céu vivo e pulsante
nessa noite

nascida sem alarde!

acordei com o chamado, eram teus olhos
fixos em mim, velando meu sono
a escuridão presa a eles me assusta:

largas amarras
que desprendo

âncoras de desejo
pernas ,braços, alma
entrelaçados por teus beijos

beijos apressados tateando a pele
e teu sorriso desabando
entre filigranas de luar

vestígios

vestígios



MAGIA_Dorina Costras




deixei vestígios,
sinais.
estive aqui

sem bússola
ou constelação

e me perdi.

pelas trilhas
veredas
dos teus descaminhos
que me enredam
em teu sorriso

agora
nem sei onde estou
fora de você,

que
também anda perdida
e
deixa rastros no frio
fragmentos
pequenas rupturas
em meus olhos
que agora
estão a tiritar.


3 de out. de 2016

poemadelirio


o caos sorri, delgado e ágil
dançamos sob teus olhos
vagando pela cidade
 semi-morta
 enquanto as palavras zumbiam
no começo da invasão

 apelos escritos em fiapos tênues
 arrastando meus olhos em ruínas
 lambendo minha cela
 esvanecem no ar
fogem pelas janelas

afoita pelas respostas
 dispostas em versos vários
nesses diários sem nexo
escritos por uma mulher
 feita de esferovite





sibila


no meu céu de baunilha
flutuam mentiras azuis
ladeadas pelas sereias decapitadas

o mesmo céu onde o criador vigia
escondo-me na folha branca

nesses versos ateus
lilith pisca o olho
serpenteia pela rua
flertando com evas dispersas
rebola fantasticamente
sorrio e rabisco armaduras

ela as ignora
enrosca-se às minhas costas

pensamos beijos-tempestade
abraços-nuvem
marasmos sem fim
sibilamos feitiços pagãos
pele e mar sob a lua santa

sorrio na rua vazia
delírio findado
ficam os dentes

metade do meu sorriso é dela
serpenteamos juntas

lilith e eu
poetisas enfastiadas trancadas em prosa e
em verso enoveladas

2 de out. de 2016

21 gramas




"Há momentos, e você chega a esses momentos, em que de repente o tempo pára e acontece a eternidade."Fiódor Dostoiévski




ando enfastiada de eternidades
rosas fenecem
numas tardes escuras

morri
desabei
 sumi

mas a gente continua!

 mandalas
cânticos
velas

pronto!

 renasce

ressuscita

sem peso
e uns cem dramas
minha alma é magra,
 pesa 21 gramas!

um médium extra orbital
contou que flutua
viaja pra outras órbitas
vagando num azul abissal

dane-se o médium!

se nada disso for verdade
se meus 21 gramas nunca saírem do chão
 que fique registrado: foram  muito bem usados

 poesia, amore!

21 gramas de amor apreendido
e outros pesos pesados

ela  me salva

louca e sã
resgatada e perdida
traduzida e confusa
deusa e demônio

 ela, a poesia, é o traço!

com ele é que faço as marcas
 perfume perene de pele inexistente
beijo invisível, murmurado em versos toscos

ele trança essa teia
que me pensa e me pesa
ele entende e conversa com essas almas

distraídas
destruídas
destronadas

ele é bênção maldição e prece!