21 de abr. de 2017

acordei desalmada


acordei desalmada 
hoje fiquei enredada no breu 

nada serve, nada me encanta 
não me espanta o canto da cigarra 

deslocada  cicio até estourar 
perdi a alma na escuridão 
escorregou num desvão 

 teu sorriso me valia no céu azul 
eu entrevi numa entrelinha 
tentei sorrir de volta 
acenei  

acho 

ando esvaída de certezas 
 mente pintada 

tarjas vermelhas e pretas 

 encolhi num canto o esgar  
não era um sorriso 

minha alma evaporou 

sinal de fumaça  
código morse 
 sopra de volta 

manda a cigarra cantar 

cicia pra mim 
sorria por mim 
acredita por mim? 

20 de abr. de 2017

demônios nunca riem




oca
sem bandeiras,
sem música,
 nem rima

ficavas perdida

um bando de folhas tremulavam
pálidas e plenas de  palavras
tartamudas e nuas
na quina do espelho

o espelho
o vazio
os cacos
a dança

tudo

- menos o riso -

era antigo quando vim
fantasmas  vintage

vim enrodilhada num visco
tropeçando nos versos
aqueles que não vias

eram imensos

nos teus olhos
só havia o espelho
o vidro
frio e tenso

e ele me sabia

tremia num canto
velho e sombrio

conhecia o inferno

eu sorria e sabia

– demônios nunca riem

(Rosa Cardoso)