29 de nov. de 2011

costura fina . (de Bento calaça)

costura fina . (para Rosa Cardoso)


.
saudade labiríntica
dessa costura fina
l
feito rede de pescar
agulhinha...
.
... assim sou
fisgado para as águas
fundas de Rosa
levados pelo encantamento
de sua poesia
os sinetes tocam aos sons
dos ventos
renda luz e mar
regem os versos de Rosa
para os jardins de minh'alma

Calaça

4 de jul. de 2011

boba


Tenho em mim
essa alma tola

Guardada e afivelada

Engulo cinismo em cápsulas
Sandice em ampolas

Doses diárias

Amenizam minha tolice rara
Mascaram essa coisa atávica

3 de jul. de 2011

Bibelô trincado


Você não me vê
Parada na tua estante
Bibelô trincado
Vestida de delírio

Você não me vê
Sou um rabisco esquisito
Aquele borrão carmim
Eu sei

Fantasiada de beijo
Pareço cansada assim
Travestida em afago

Você não me vê
Mesmo que atravesse paredes
Apenas para esse arpejo
Eu sei

Vez por outra morro
Desisto
Desencarno

Noutras renasço
Na primeira nota da ária
Capitulina desse romance insano
Apareço na tua porta
Princesa nua, bruxa distraída
Deusa e dragão

Fico na ponta da língua
Da tua e da minha
Beirando abismos
Viro palavra não dita
Quase nascida
Verso esquecido
Deixo o passado
E fico por ser

27 de jan. de 2011

para que suas garrafas não encalhem na areia - Bento calaça

Um poeta
tem mistérios que as mãos
não tocam
sentem sem os sentidos
os sons das letras num sopro.
São raízes que se ligam
por alguns
outros passam ignóbeis
ignorando a mensagem...
um poeta precisa
para que suas garrafas
não encalhem na areia
dos que orem em poesia
com a mesma fé
dos tombos que o vento
cravejar nas arvores, rachando
verbos e sementes.
Para que assim também alcance
momentos de poesia e êxtase
nos que nela mais futucam.


Bento calaça

12 de jan. de 2011

Os Argonautas pousaram em plena Avenida Atlantica./ Poema de Eduardo Perrone



Seres do espaço sideral,
Humanos por essência,
Cometeram a suprema indelicadeza
De pousarem no meu quintal,
E amarrotarem as roupas que coloquei
Para secar
No varal.

Também acabaram com
A minha plantação de papoulas estéreis,
Assustaram homens e mulheres,
Afastaram os pombos mestiços,
Expulsaram amores, dores e vícios,
Além do viço que só a ignorância humana
Consegue entender.

Os Argonautas me fizeram esquecer de você,
Quando me disseram
-assim na bucha-
Que tudo o que na verdade machuca,
Esfola, arranha, luxa,
Faz, no fundo, no fundo,
Crescer em tamanho esse baita tesão.

Eu teimei, confesso:
Fiz até oração.

Mas não deu certo, não...