5 de mar. de 2024

Encanto numero 19






ando na linha
cortando paradoxos
perto dos abismos

corro atrás
d’um sismo
d’um vento torto
d’um sopro na nuca

d’uma mágica
encanto de outro mundo

p’ra abrir as asas
içar velas
 pular noites e dias

virar ocasos em alvorada
 acalmar tempestades

escuta?

grilos
 pirilampos
borboletas
gentes

falam das cismas
 caixas e encaixes

prenso a respiração na entrelinha
esforço p’ra soprar neblina

Não fiz nada e hoje já é ontem!

sem querer,
quase noite
nuvens magenta
arrastam- se

olhos insones

corri desastrada
tropecei no vestido
rendado de promessas

 queria voar ou nadar

 era tão tarde ou tão cedo
 o salto quântico ninguém viu

a terra seguiu girando
naquele ocaso por acaso

 era quase noite
nuvens magenta

tantas!
Imensas!

atrás do tempo,
tempo que vinha

dias a fio enfastiados
 desta tarde inteira

acaso sem fim
a lua escorrega

chegou quando dormia
e desaba na noite que caía

dentro dos espelhos
avessa e cansada
dos futuros que entrevia

visagens inúteis
numa tarde qualquer

cacos de riso pelos cantos
rasgando a pele diáfana
 e a luz respinga por aí


pinta retalhos rendados
na pele nua do tempo,

tempo que vinha
tempo que foi sem ter sido

fechamos os olhos
driblamos a escuridão
dentro dos espelhos
visagens inúteis
numa tarde qualquer
que o breu comia


Poema de Rosa Cardoso

3 de mar. de 2024

língua









Meu corpo fala,
você sabe!

Conhece o idioma.

Minha língua
cadenciada e ladina.

Você sabe,
o que meu corpo fala
quando geme e cicia
e a língua desliza

Lasciva.

E eu te envolvo
lambo
encanto
e você,

me hipnotiza.

Poema de Rosa Cardoso



entranhável





juro que tento
não ouvir esses ecos
com olhos secos

esconjurei ontem
o sacrário vazio
dessa voz surda
que ronda as tardes

esses sussurros enredados
teus redemoinhos apalavrados
embaracei delicadamente
cada um dos tentáculos

enleada fujo
sem muita pressa

juro... juro que tento
não ouvir esses ermos
em que escondemos tanto
é tarde e
meus olhos desertam


Rosa Cardoso

vadiagem




Sorrio.
Pela noite azulada
A cidade dorme

Devaneios enevoados
Repicam no breu

Pensamentos avoantes
Vagam em lenta procissão 

Noctâmbulos pavores
Ciciam em comitivas risonhas

Aprisionada e nua
A alma trêmula
Tremula e sonha


Poema de Rosa Cardoso