29 de nov. de 2019

o chamado





os fios vibram
sinais vagos
que te trazem
te guardam

desligada
ignoro as mudanças.

sigo distraída
pela invocação
que me envolve
e brandamente
cinge minha cintura.

cerca-me
num abraço amorfo.

mergulha dissoluta
fura-me as veias
luto,
acho que vou resistir.

vã tentativa,
devassa,
respiro tuas cores
e desisto.





Poema de Rosa Cardoso

trivial




desde o caos
em que
por acaso
te vi
fiquei assim
muda
rendida
eu fujo
minto
finjo entender
teus
cicios
inícios
silêncios
desde o início
do vício.
não queria
juro,
não fala
não quero
não preciso ouvir
só do beijo
você quer
deseja,
chama e
assim ,
resumo tudo
trivial
signo de caos,
marcado
na tua pele


Poema de Rosa Cardoso

vestígios de afagos






trago esse sorriso
num envelope discreto

em que guardo
pequenos cacos

vestígios de afagos

ninguém vê o sorriso
quebrado e findo

assim eu consigo
evitar esse peso

é meu feitiço lasso
ameno e delicado

um tipo de insana
angustiante inação



Poema de Rosa Cardoso

lilith, marias e evas





Ao sul do equador,            
 Minha querida
 Fica o pecado

Aquele que oferto

Espera-te resiliente e quieto
Numa caixa perolada
                                                                   
Prometo um vício repaginado
Originalmente inexistente
Falado numa língua diferente

Na tua

Naquela que desliza
Tudo que falo

Doer
Latejar
Piscar
Devorar-te              
Ao sul do equador.

Dizem

Há cinquenta tons de cinza

Eu vejo claramente
Penugem escura
                                           
Dormente

Tuas lambidas distantes
Distraídas e inconsistentes

Ao sul do equador
Tudo gira
                       
Sem as dores
Sérias de Eva

Sem os amores de Maria

Resta-me
Afundar no umbigo de Lilith
Alimentar fogo com fogo
Antropofagia!

Poesia de Rosa Cardoso

mordaz



preciso respirar
as mentiras suaves
que teus olhos contam

– não olha agora!–

não me encara assim
com esse afeto
sou só uma alucinação

– não olha agora!–

teu olhar arde;
quando desliza assim
pungente na minha pele

– não olha agora!–

não abre os olhos
não quero teus olhos
só o beijo que
deixa na língua
esse prazer mordaz...

(rosa cardoso)

sinas e tentáculos



Finalmente desentendi
Não me pergunte quando
Deslembro, apago e afago
O dia, a semana, o mês

Você estava lá e basta

Desmonto todos os fatos
Desencaminho sinas e tentáculos

Teu sorriso assassina regras e atos

Ando farta de fatos
Dessas dúvidas órfãs

Numa tarde vazia
Recito orações tecidas em desvario

Poema de Rosa Cardoso
Gravura de Iriene Borges

1/4 de confusão e uma dose de incerteza



Não te contei...
Guardo minha escuridão
Com cuidado e medo
Num remoto escaninho,

Que fica à direita dos desejos.
Desejos e medos que escondo
Na cerração que desliza
Em espesso nevoeiro.

Sei que não contei
Não dessa vez..

Sonhei com seu sorriso e sorri.
Visão imprevista e tão rara
Seu sorriso flutuando
Entre céticos desejos...

Acredito em tantas coisas
Algumas disparatadas e loucas
Costumo duvidar de você

Recuar mil passos atrás

Desconfiada e descrente
Mas, quando sorri.
Tudo muda
E até em você acredito.
E nesse seu sorriso
Que desmente todo o resto.

Brinco com sua sombra
Aquela que prendi numa gaveta

E sem que perceba
Viscosa e demoradamente

Desejos,
Terrores,
Escuridão e medo.
Escapam por entre os esconsos

Assustada
Escondo-me no sorriso


(rosa cardoso)
.

Escapulário






a ideia sorri
oscila numa dança
ondeia suave

relíquia que não houve
quase sentido
foi por um triz

pendente

fica esse gosto
presumido

essa coisa
por dizer

e você
encantado




escapulário








a ideia sorri
oscila numa dança
ondeia suave

relíquia que não houve
quase sentido
foi por um triz

pendente

fica esse gosto
presumido

essa coisa
por dizer

e você
encantado