16 de nov. de 2016

ARCANO 16



o vento brinca com a árvore na janela
e tua voz vem riscar a vidraça


é tão tarde


quando sussurras teus versos
em rimas surreais
que deslizam pelos meus sonhos
junto com umas lágrimas descabidas


é tão tarde


para riscar peles e vidraças
até os mortos sussurram
longas árias
em cadencias insanas
enquanto você chora
em rimas perfeitas
murmura histórias arcanas


versos
música
hosanas e teu corpo


é tão tarde


eu sussurro
os mortos mentem
em línguas mortas
enquanto a tua desliza
no céu da boca
segredos estelares
bobagens seculares


mentiras de vento e folha
que eu finjo não ver
nesse gozo esquecido
perdido entre as frinchas da noite
eu entendo
tudo, ou quase tudo,
de tudo que nunca entendi


meus olhos ardem
e te esquecem um pouco mais
fecho o livro sem pressa
guardo o poema junto aos meus
que dormem sozinhos


teus mortos sussurram
é tão tarde 


Rosa Cardoso

alquimia



É tarde! Estirada ,
a noite sussurra intentos
nesses sonhos vagos

Tua reticente cilada
escora no céu da boca
largos esteios infundados
e desliza pelas abóbadas

Ajoelhada desabotoo
inveteradas promessas
elas exalam teu perfume
e as notas perdidas cantam
a mesma canção embolorada

Um minueto saliente
lançando palavras-raízes
nessa lua minguante
danço nos escombros
desses velhos achados
onde guardo com cuidado
o passado
embrulhado em seda azul



Rosa Cardoso