28 de abr. de 2017

white lies



fantasma vago
ponto cego
no canto do olho

desaconteço

o mundo adolesce
treme e eu encolho
num canto desse quarto crescente

fotos, câmeras, manifestos
desvarios roucos
punhetas entrópicas
afogam ofélias

insepultas e castas
flutuam dormentes
recitando cantigas mortas
versos inúteis

resgatam insetos
riem dos manifestos
rasgam incunábulos
repletos de promessas

fatos, atos, ratos, mortos
falos, otelos, ralos, ateus

cubro teus ouvidos
protejo tua pele nua
enquanto danças evitando
roletas poliglotas
filtro meu olhar em verbos
traçando esses caminhos intransitivos

“quem lê tanta notícia?”


Imagem: Morning News by Francis Luis Mora, 1912, San Diego Museum of Art

26 de abr. de 2017

carteando



Liquidifiquei tuas dores
Nesses versos que faço

Tantos

Sempre inúteis e avaros

Mistifiquei os teus e
os meus espantos

Colhi dos teus rabiscos
Meus erros
Meus insanos acertos

Tantos

Sempre inúteis e avaros

Testifiquei da tua mão diáfana
Nesses meus rebuscos esparsos
Falei dos beijos sacros

Tantos

Ainda inúteis e avaros

Codifiquei tua pele
Fiz dela infolio caro
Esfoliei teu dorso
Para reler

Fiz-me rascunho
Confessei meus absurdos
Em conversas vazias e nuas