5 de fev. de 2014

linde



.

tuas desculpas
sulcam a pele
em preces mudas

vazias

esmiúçam sem pressa
medindo crepúsculos
palmo a palmo
deslindam ocasos

29 de jan. de 2014

mordaz





preciso respirar
as mentiras suaves
que teus olhos contam

– não olha agora!–

não me encara assim
com esse afeto
sou só uma alucinação

– não olha agora!–

teu olhar arde;
quando desliza assim
pungente na minha pele

– não olha agora!–

não abre os olhos
não quero teus olhos
só o beijo que
deixa na língua
esse prazer mordaz...





22 de jan. de 2014

fumo



“Invoco o nosso sonho! Estendo os braços!
(...)
Fumo leve que foge entre os meus dedos!”

teu poema dança milongas
murmura segredos na bruma
que o vento sopra

meus olhos caçam os teus
que enormes e vagos
iluminam a noite perdida

balbucio palavras
recito verbos mortos

outro cigarro, 
outro copo, 
outro livro
e esse vazio maldito
que vive comigo 

queria gastar todos os verbos
todos os versos
toda a saliva 

murmuro outro poema, 
outra palavra,

o cigarro brilha na bruma
outro copo, 
outro livro.

15 de jan. de 2014

rabisco mudo




Gritei. Por medo. Por dor. Por nada.
Grito redondo, gordo, insensato. 

E vazia. Talvez te chamasse
Fossem desmedidos meus dias 

Não tivesse calculado, 
Previsto, desenhado
O minuto a minuto. 

Tudo.

Confunde-me a sobra que se arrasta
No silêncio 

Não há desvario. 
Minha confusão 
não tem voz.

Preciso 
só o rabisco mudo 
do teu nome 
na memória.

Sortilégio burlando e
invadindo meu dia.

8 de jan. de 2014

conexão febril


Esses sinais...
Essa conexão!

– Preciso te deixar de fora.

vedar,
deter,
impedir a corrente
em que me afogo

estagnar
esgotar

– Criei um compartimento
Onde te guardo

É só teu
Nele eu posso
deixar correr essa ânsia
até essa febre esgotar-se;
exaurir-se.