10 de fev. de 2024

divindade virtual








a janela se abre
mergulho no mar
de luz e sombras
que é você

palavra por palavra
imagem por imagem
afogo meus desejos

ele vê
ele sabe

o deus desse mundo
sabe de tudo
e cobra seu preço

sonho por sonho
palavra por palavra

meus beijos
meus desejos

tudo morre
mar de incompletude.



Poesia de Rosa Cardoso

olhar



sem teu olhar me perco
através do rumor e da confusão

num canto escuro

teu olhar
vaga luz
sobre mim

teu olhar me conduz
ele vive de mostrar-me
desnuda-me e foge

no meio da noite
tua voz ecoa em mim

sem assustar

teus olhos me acariciam
acalentam sonhos
resvalam em segredos

ainda te vejo
imerso nas luzes obscuras

queria teu olhar agora

por isso te procuro
em outros olhares
apresso tua chegada

e espero

espero por te ver
antes que a cortina feche
antes que eu desapareça.

imprimatur





.

incêndio e promessas
 tingem o dia
minha fé cresta dúvidas 
em fileiras coloridas

ouço pássaros em revoada
vejo as nuvens
canto dos meus olhos perdidos

elas tatuam filigranas
esbraseadas e distraídas

eu te busco
 o medo se aproxima.

te cato nas ruas, 
nas luas, nas camas,

meu pensamento te inventa
intenta tua voz
noite e dia

pensar é meu escudo

teu olhar, 
teu sorriso,
tuas palavras
salvaguarda nas sombras

tecem as malhas
fecham caixas tarjadas
impedem o salto da beirada

.

poema de ROSA CARDOSO

7 de fev. de 2024

janelas





Pelo minúsculo quadrado
vejo a imensidão
uma nesga de luar
ilumina o lugar
um sopro de alegria
volteia e prende minha atenção
por um instante
um momento apenas
que depressa se perde
irreal e fugidio
como as promessas

poema de rosa cardoso

4 de fev. de 2024

Interstício








“no decorrer dos meses
Já não sei mais quem eu sou
E a pessoa Refletida
No espelho
Dos seus olhos
Por onde foi que entrou?”


Minha alma dança,
enevoada e cega
sob o jugo de mil pecados

Rutilante e trêmula bacante
que desaba em espirais sinuosas.

Ninguém vê o malabarismo das minhas lágrimas
sigo subjugada num equilíbrio frágil
pendurada nos delicados fios
tecidos por mãos insanas e frias

Corto delicadas lascas de mim
em inúteis remissões
fragmentos do que fui.

Culpas crescem indolentes
nas frestas dos teus silêncios
reforçam a filigrana prateada
que brota dos teus olhos vidrados

Beijos sonolentos me deslizam
por lençóis bordados de sonho,
enquanto amamento lobos mutantes
filhos das facas que se escondem no interstício
das palavras não ditas

Desfaço-me a cada dia pra te recompor
junto os cacos dos teus olhos
reconstruo os teus sonhos
enquanto abraço abismos.


(Citação "no escuro" de marina lima e antônio Cícero)