6 de fev. de 2008

insone


Uma noite sem sonhos. Não sei se dormi. Misturei pensamentos numa grande confusão. Ouvi tua voz me ordenando que dormisse. Tentei obedecer. Os sonhos vieram. Tua imagem misturada com a revista em quadrinhos. A gripe me faz sufocar. Abri os olhos. Procurei-te. Encontrei as sombras do teto. O céu aqui clareia por volta das 5. Tons de rosa e azul bebê. Pássaros. Cães. Sua voz tão nítida me ordenando que dormisse. Falta de ar. Calor. Nada me faria dormir naquele momento. Nem tua voz. Da varanda vi o sol nascer. Desisto de dormir. Uma hora qualquer o sono me alcança. Sonha por mim.





Sonhei ter sonhado
Que havia sonhado.

Em sonho lembrei-me
De um sonho passado:
O de ter sonhado
Que estava sonhando.

Sonhei ter sonhado...
Ter sonhado o quê?

Que havia sonhado
Estar com você.
Estar? Ter estado,
Que é tempo passado.

Um sonho presente
Um dia sonhei.
Chorei de repente,
Pois vi, despertado,
Que tinha sonhado.

"Manuel Bandeira - Tema e Variações, in Antologia


mundo é grande

mundo é grande e cabe
nesta janela sobre o mar.
O mar é grande e cabe
na cama e no colchão de amar.
O amor é grande e cabe
no breve espaço de beijar.
Carlos Drummond de Andrade






PEQUENO POEMA DIDÁTICO 

O tempo é indivisível. Dize,
Qual o sentido do calendário?
Tombam as folhas e fica a árvore,
Contra o vento incerto e vário.

A vida é indivisível. Mesmo
A que se julga mais dispersa
E pertence a um eterno diálogo
A mais inconseqüente conversa.

Todos os poemas são um mesmo poema,
Todos os porres são o mesmo porre,
Não é de uma vez que se morre…
Todas as horas são horas extremas!

Mário Quintana

5 de fev. de 2008

A Poção da Bruxa Errante






Trago comigo, espetado no peito
a adaga vil de uma maga vã.
Enquanto jorra um fluxo quente
minando a força do sentido ardente,uma dança, em gargalhadas
inverossímeis,improvisa-se naquele planalto rente,
untado de frenesi.

Quando finda tenebroso ensaio,
Não sai a maga em sua vassoura errante:
Antes, desfila nas superquadras milimétricas,
Num voo rasante,
Com o seu ‘aspirador de pó’ gigante.
Antes da inconsciência,
banhado naquele caldeirão fumegante,
vislumbrei os feitiços elegantes
proferidos ela bruxa errante
quando, ainda fantasiada de musa,
me entregou os seus olhos brilhantes,impregnou seu cheiro em meus sonhos... e
sumiu.
Voara para o seu castelo.
Me atraiu de um encanto só...
E, antes de fechar a porta,
senti a adaga cortar a minha carne:
Leito dos Inocentes.
Eu era apenas mais um ingrediente
da poção que ela preparara
para restituir àquele sapo louro,
sua condição de príncipe.

(Elmano Sandino, dezembro, 1990)











O Poema é de Lustato Tenterrara
Teresina/PI - Brasil, Escritor Profissional
http://recantodasletras.uol.com.br/autor.php?id=19983

Cigarras




CIGARRA CIGARRA CIGARRA


A maior concentração de cigarras que já ouvi esta naquela praça, deve haver ali milhares de cigarras, produzindo no final da tarde um barulho deliciosamente infernal! Diabos!Por mais que tente evitar sou forçada a passar ali mais de uma vez por dia, é uma área central. Meu ônibus me deixa à porta delas,cercada pelos Ipês amarelos em flor e pelas cigarras.
Curioso sempre associam os insetos cantantes à mulheres o que é um erro são os machos que cantam(que surpresa!). Eles cantam para atrair as fêmeas e para espantar os pássaros,numa forma de defesa. Porque isso me parece tão correto e familiar? Há algo de belicoso e sedutor no canto desses insetos.
Há um agora bem ali na varanda exigindo minha atenção, como se ignoram 120 decibéis de barulho? Fecho a janela? O som a atravessa. Quem sabe o inseto resolva cantar em outro lugar .Deve ter errado o endereço.Pego o inseto e jogo ao vento,com um silencioso adeus.