31 de mar. de 2024

não tem nome





 o céu dispara seus dardos

setas azuis lancinantes

fiapos de sombra rastejam medos


cismo anjos

livros sedados

fogueiras e selos

sexo e mentiras


tudo cai


enredadas pelos cantos as meadas desfiam

longos rosários de verdades entrecortadas

os anjos segredam revelações

em meus olhos moucos


queria que contassem dos desenhos

das tramas traçadas

dos ardis pintados na areia


mas eles sussurram sem parar

cegando teus encantos


queria que ouvissem

essas notas dissonantes e embaraçadas

sopradas no avesso da trama


distraída pela algaravia de cores

despedaço teu olhar surdo

espargindo cacos

vitríolos em que refulgem incêndios


Rosa Cardoso




densidade

 





toda a manhã procurei
esconder dos teus olhos
esse peso na alma,
essa inquietude,
essa fome.

é pouca coisa ou, quase nada
um vago temor,
um medo que me espalma
sem pressa
apesar da calma
disfarço,
deslizo.


me escondo,
dentro da folha branca
procurando
sílabas,
palavras,
salvação
nesse poema que me entala

te engano,
te beijo
e sigo

esforço tenso
em tentar ser
densamente leve,
levemente densa

poema de Rosa Cardoso

sinas e tentáculos



Finalmente desentendi
Não me pergunte quando
Deslembro, apago e afago
O dia, a semana, o mês

Você estava lá e basta

Desmonto todos os fatos
Desencaminho sinas e tentáculos

Teu sorriso assassina regras e atos

Ando farta de fatos
Dessas dúvidas órfãs

Numa tarde vazia
Recito orações tecidas em desvario


Poema de Rosa Cardoso

 

delícia




vi nos teus olhos
entre muitos enganos
enlevo e encanto.

que inquietos traçaram
na pele
desvarios e planos

vi na tua boca
entre tantos ardis,
prazer e volúpia.

que ,distraído
deleitei-me com o
gosto agradabilíssimo
dos beijos que não dei.

de tudo ficou esse vazio
em que vago
cheio de você.

ficou essa marca
os sinais... trilhas mentais.

amuleto terrível
talismã de eras abissais.



Poema de Rosa Cardoso