Hoje um bem-te-vi passeou na sombra
Suas patinhas deixaram marcas no canto dos meus olhos
Maquiagem. (Esclareço ao espelho.)
Ele tateia sombras e some
Envolto na luz do sol tardio
Cigarras cantam,
Chamam e, clamando,
Morrem antes que eu me perca
Esqueço! É fácil aprender.
Sou criança de novo e chove
Lanço navios de papel na sarjeta
Eles seguem. Altivos uns tempos.
Basta virar as costas... Antes de soçobrarem
Não gosto de sentir que soçobram,
Mas saber que é inevitável ensina a perder
Perder um barco, perder um abraço, perder-se
Perder amores.
Esses, os amores, dentre todas as coisas que se pode perder,
São os mais fáceis de lançar na sarjeta
Achar-se
Achar umas chaves, um relógio, continentes?
Pode ser que consiga.
Se for preciso traço os mapas.
Mas amores!
Desses raros e caros demais.
O amor como era
No momento em que era.
Perco, esqueço e disfarço os cacos.
Adeus, então.
Adeus bem-te-vi.
Adeus cigarras!
Adeus sombras!
Vou me vestir para manter meus amores.
Guardar os cacos e correr na correnteza
Quero pegar aquele barco antes que se desfaça!
Poema de Rosa Cardoso