2 de jun. de 2017

Visita de Elisabeth


Hoje um bem-te-vi passeou na sombra
Suas patinhas deixaram marcas no canto dos meus olhos
Maquiagem. (Esclareço ao espelho.)
Ele tateia sombras e some 
Envolto na luz do sol tardio

Cigarras cantam,
 Chamam e, clamando, 
Morrem antes que eu me perca
Esqueço! É fácil aprender.

Sou criança de novo e chove
Lanço navios de papel na sarjeta 
Eles seguem. Altivos uns tempos.
Basta virar as costas... Antes de soçobrarem

Não gosto de sentir que soçobram, 
Mas saber que é inevitável ensina a perder
Perder um barco, perder um abraço, perder-se
Perder amores.
Esses, os amores, dentre todas as coisas que se pode perder,
São os mais fáceis de lançar na sarjeta
Achar-se 
Achar umas chaves, um relógio, continentes? 
Pode ser que consiga. 
Se for preciso traço os mapas.
Mas amores!
 Desses raros e caros demais.
O amor como era 
No momento em que era.
Perco, esqueço e disfarço os cacos.

Adeus, então.
Adeus bem-te-vi.
Adeus cigarras!
Adeus sombras!

Vou me vestir para manter meus amores.
Guardar os cacos e correr na correnteza
Quero pegar aquele barco antes que se desfaça!

Poema de Rosa Cardoso