20 de jul. de 2025

O Tempo Parou: Uma Vigília Ancestral

O Tempo Parou: Uma Vigília Ancestral

Uma fanfiction que coloca vampiros e bruxas de todos os gêneros para dançar

CAPÍTULO 1: A CASA DA NÉVOA

🎙️ RÁDIO: "Radio Parisienne" (música: "La Vie en Rose" - Édith Piaf, com um chiado que lembra o som de um pêndulo antigo)

LOCUTORA: "Paris, a cidade luz, envolve-se na névoa do rio Sena. Dizem que há mais na névoa do que os olhos podem ver, segredos sussurrados entre as pedras. E para os corações que buscam a paixão, ou a memória: Piaf, a canção de um amor que nunca morre."

(CENA ATUAL - PARIS, APARTAMENTO DE LUNA, SÉCULO XXI):

Anoitecia quando a porta se abriu com um som que parecia vir das entranhas da terra, um misto de vento e trovoada. A névoa do rio Garonne entrava com ela: Sibila, minha amiga mais antiga... e agora, meu último castigo.

"Por quê? Pode me dizer por quê?", ela explodiu. "Você recebeu a maldita mensagem do Talamasca e não disse nada? Sabe… o que eles fazem com a memória? Eles arrancam! Desapareceram com Isadora! E agora você está aqui, com Luna, essa pobre menina que tem a marca Mayfair em cada célula!"

Senti meu próprio sangue gelar. Sim, eu tinha recebido a mensagem, um pergaminho finíssimo, quase invisível, selado com a insígnia da Talamasca: "A Linhagem Mayfair está sob vigilância máxima. O Despertar Primordial se aproxima. Preparem-se para o Protocolo Rainha do Sono." Eu não havia dito nada a Sibila, porque a verdade era um fardo que ela não conseguiria carregar sem explodir. Ela sempre foi o fogo; eu, a névoa.

Luna estava encolhida no sofá, alheia à fúria de Sibila. Seus olhos, de um tom violeta profundo, fixos em um ponto invisível no ar. Ela havia se mudado para Paris há apenas um mês, uma jovem artista buscando inspiração, mas a linhagem Mayfair a havia encontrado. E com ela, o chamado ancestral. Ela era sensitiva, via e ouvia o que nós, as mais antigas, tentávamos esquecer.

"Luna não tem nada a ver com isso", eu disse, tentando manter a voz calma, mas falhando. "Ela é só uma garota."

Sibila riu, um som áspero e sem humor. "Uma garota? Ela está ligada! Eu sinto! Sinto o eco da Rainha nela, a mesma Rainha que está adormecida nas profundezas de alguma tumba esquecida! A mesma que a Talamasca quer manter presa. A mesma que Isadora estava caçando antes de desaparecer!"

A música de Piaf, antes melancólica, parecia agora um lamento fúnebre. O ar na sala vibrava. Luna se contorceu no sofá, um gemido baixo escapando de seus lábios. Seus olhos se reviraram, e por um instante, eu vi não os olhos dela, mas dois orbes de fogo antigos, famintos, refletindo uma imagem que não era de Paris. Era o deserto. Era uma tumba. Era uma coroa.

"Ela está sonhando com ela", Sibila sussurrou, a fúria dando lugar a um temor quase reverente. "Com Akasha."

No pescoço de Luna, um medalhão de prata, que ela usava desde criança, começou a aquecer. Não era um artefato Mayfair típico; era um objeto simples, um presente de uma avó distante, mas agora pulsava com uma energia que eu nunca sentira antes. Era uma "chave". Uma ponte.

(Transição para SONHO DE LUNA - MÊNFIS, C. 850 A.C.):

A voz de Piaf se tornou uma melodia subaquática, arrastando Luna para as profundezas de um sonho que não era seu. Ela estava em Mênfis, no Antigo Egito, não como ela mesma, mas como uma sombra sem rosto, observando de longe. Viu a Rainha Akasha, ainda com sangue em seus lábios, sendo aprisionada em um sarcófago. Mas a Rainha não estava dormindo. Seus olhos estavam abertos, fixos nela, Luna, como se a estivessem esperando por séculos.

Uma mulher, antiga e poderosa, de pele escura e olhos de obsidiana, estava tecendo uma rede de luz ao redor do sarcófago, selando-o. Era Maharet, a Sacerdotisa que havia se tornado Vampira, mas naquele tempo, ela era apenas uma bruxa que tentava conter o mal primordial. Mas Akasha não estava completamente selada. Havia uma fenda, um fio invisível que se estendia da Rainha adormecida até o peito de Luna. Aquele fio era o medalhão. Era uma conexão de sangue e destino. Akasha estava adormecida, mas não morta. E seu olhar, em Luna, prometia um despertar.

(Retorno ao PRESENTE - PARIS, APARTAMENTO DE LUNA, SÉCULO XXI):

Luna acordou com um sobressalto, o corpo tremendo. O medalhão em seu pescoço estava quente, quase queimando. As luzes de Paris cintilavam através da névoa.

"Eu vi...", Luna sussurrou, os olhos arregalados. "A Rainha. Ela estava me olhando."

Sibila tocou o medalhão. "É mais do que um olhar, Luna. É um chamado. Você é o eco dela."

📜 RELATÓRIO TALAMASCA (OBSERVAÇÃO INICIAL - PRIORITY AZUL)

ASSUNTO: Anomalia 'Ponte Astral' - Luna Mayfair

OBSERVAÇÕES:

"1. Atividade psíquica incomum detectada ao redor de Luna Mayfair após sua chegada a Paris.

2. Picos de energia astral condizentes com a projeção da 'Entidade Primordial Adormecida' (Akasha).

3. Luna Mayfair exibe sinais de 'ligação de sangue' com a Entidade. O objeto 'Medalhão de Prata' atua como amplificador da conexão.

4. Conclusão: Luna Mayfair é um 'ponto de convergência' para o despertar. Manter vigilância. Não intervir diretamente ainda."

Elemento Rádio (Piaf)
Reforço Canônico/Simbolismo A canção como ambientação e comentário sobre o amor e a memória.
Elemento Apresentação de Luna
Reforço Canônico/Simbolismo Sua sensibilidade, sua ligação com o medalhão e com Akasha.
Elemento Visão de Akasha
Reforço Canônico/Simbolismo Confirmando a Rainha adormecida e sua conexão (pré-1985).
Elemento Maharet (Bruxa)
Reforço Canônico/Simbolismo Sua presença na visão, como a que aprisionou Akasha (pre-vampire).

🌌 FECHAMENTO: O PRIMEIRO SUSSURO

A névoa de Paris parecia engolir o som da rua. Luna segurava o medalhão, aterrorizada, mas também estranhamente compelida. Sibila tocou o rosto de Luna. "Ela vai te puxar, Luna. Você tem que ser forte." E no fundo da mente de Luna, a voz antiga, um sussurro faminto, prometendo um despertar que mudaria tudo.

CAPÍTULO 3: O ELO DE SANGUE

🎙️ RÁDIO: "Radio Léman Mystique" (música: Uma melodia de harpa celta misturada com o sussurro de uma cachoeira distante, e um som quase inaudível de um sino de vidro quebrado)

LOCUTORA: "Nas águas tranquilas do Lago Léman, segredos profundos se escondem. Entre as montanhas e o céu, há um eco que conecta o passado ao presente. Para os que buscam a paz, ou a verdade oculta: a canção do lago, e a promessa do que está por vir."

(CENA ATUAL - MONTREUX, SUIÇA, CASA DE VERÃO, SÉCULO XXI):

Luna estava à beira do Lago Léman, o medalhão em seu pescoço, agora a "Chave Crono-Astral", irradiava um calor sutil. O som da harpa celta no rádio se misturava com o tilintar quase inaudível do sino de vidro quebrado em sua mente. Ela não estava sozinha. Maharet, a antiga, a Sacerdotisa transformada em Vampira, estava sentada ao seu lado, seus olhos escuros e profundos observando as águas. Não a Maharet marcada pelas queimaduras, mas uma Maharet de pele imaculada, sua figura um "memorial portátil" de todos os séculos, uma guardiã da memória.

Luna ainda estava processando a visão de Mênfis, de Akasha, da Rainha adormecida, e das Rainhas Africanas tecendo o "Manto". Sibila e a narradora haviam chegado a Montreux, seguindo o rastro, mas Maharet já estava ali, esperando. Não como uma ameaça da Talamasca, mas como a guardiã original do sono.

"O que é isso?", Luna perguntou, segurando o medalhão. "O que ela quer de mim?"

Maharet estendeu a mão, seus dedos finos e antigos. "É uma ponte, criança. Um elo de sangue. Você é a 'Ponte Temporal'. A vigília dela recai sobre você. Como recaiu sobre mim, antes da Talamasca."

(Transição para ENSINAMENTO - VISÃO PARTILHADA COM MAHARET - MENTE DE LUNA):

A harpa celta no rádio se tornou um murmúrio ancestral, as cachoeiras distantes, um rio de memória. Maharet tocou a testa de Luna, e a mente da jovem Mayfair foi inundada por um fluxo de conhecimento.

Ela viu novamente Mênfis, a prisão de Akasha, a teia das Rainhas. Mas desta vez, Maharet estava ali, ensinando-lhe não apenas a ver, mas a sentir e a tecer.

"Akasha não pode ser morta por meios convencionais", a voz de Maharet ecoava na mente de Luna. "Ela é a fonte. A essência. Mas ela pode ser contida. Seu sono pode ser moldado. Ela dormirá, mas sonhará. E seus sonhos podem ser perigosos. Eles podem se tornar realidade. Você, Luna, deve aprender a 'tecer sonhos seguros'."

Luna viu suas próprias mãos, não de carne, mas de luz astral, tecendo fios de energia ao redor do corpo adormecido de Akasha, fortalecendo a teia das Rainhas. Não era uma prisão de aço, mas uma "prisão de tempo", onde o despertar só ocorreria no momento predestinado. Eram glifos de Makeda, de Deborah, de Nzinga – mas também de Mekare, que um dia cumpriria a justiça final.

Ela viu uma serpente de obsidiana, feita de pura energia e memória, enroscando-se ao redor do sarcófago de Akasha, selando-o novamente. A serpente não atacava; ela protegia, mas também mantinha a prisão. Era a guardiã do sono.

(Retorno ao PRESENTE - MONTREUX, SUIÇA, CASA DE VERÃO, SÉCULO XXI):

Luna abriu os olhos. A harpa celta ainda tocava. Maharet estava ao seu lado, seu olhar de aprovação. O medalhão de Luna não queimava mais; ele pulsava com um ritmo calmo e constante.

"Eu entendi", Luna sussurrou. "Eu sou a guardiã do sono dela. A Ponte Temporal."

"Sim", Maharet confirmou, sua voz como a corrente de um rio antigo. "Você tecerá os sonhos dela, criança. Protegerá o mundo do despertar dela até que o tempo se cumpra."

A narradora, Sibila e Isadora observavam de longe. Elas haviam seguido o rastro da energia até Maharet. A Talamasca estava por perto, como sempre, observando.

📜 RELATÓRIO TALAMASCA (OBSERVAÇÃO CRÍTICA - PRIORITY VERMELHO)

ASSUNTO: Ativação 'Ponte Temporal' - Luna Mayfair & Intervenção 'Maharet'

OBSERVAÇÕES:

"1. Confirmação: Luna Mayfair é a 'Ponte Temporal' para a 'Entidade Primordial Adormecida' (Akasha).

2. Intervenção direta de Maharet (Sacerdotisa/Vampira Original) na instrução de Luna.

3. Maharet ensina Luna a 'tecer sonhos seguros', reforçando o 'Protocolo Rainha do Sono'.

4. O objeto 'Medalhão de Prata' de Luna é agora a 'Chave Crono-Astral', ancorando o sono de Akasha. A 'Serpente de Obsidiana' manifestou-se como guardiã astral.

5. Conclusão: A situação é mais complexa do que o previsto. Maharet está agindo para conter Akasha, usando Luna. Monitoramento constante e sem intervenção. O destino de Akasha agora depende da vigilância de Luna e da orientação de Maharet."

Elemento Luna Guardiã
Reforço Canônico/Simbolismo Seu papel como "Ponte Temporal" e "Guardiã do Sono" de Akasha.
Elemento Pinturas Rituais
Reforço Canônico/Simbolismo Confirma a técnica de Maharet (temporária, simbólica, decolonial).
Elemento Serpente de Obsidiana
Reforço Canônico/Simbolismo Materialização do poder de Akasha e do ritual de contenção.
Elemento Vínculo Mayfair
Reforço Canônico/Simbolismo Conexão entre Luna, Sibila e Isadora como uma rede de bruxas protetoras.

🌌 FECHAMENTO: O PRIMEIRO PACTO

Luna estendeu a mão pintada sobre a água do lago. No reflexo bruxuleante, por um instante, ela viu não seu rosto, mas o de Sibila e Isadora, uma rede invisível de força.

Ela sussurrou:

"Não estamos separadas. Estamos tecendo."

E a água do Léman, fria e profunda, levou seu pacto para as correntes invisíveis.

CAPÍTULO 4: NEW ORLEANS & O ETER DOS ANOS 80

🎙️ RÁDIO: "Radio Retro Mania" (música: "Every Breath You Take" - The Police, com um chiado quase imperceptível de vozes sussurradas em línguas mortas)

LOCUTOR: "De volta à New Orleans dos anos 80, onde cada batida é um mistério e cada sombra esconde um segredo. E no ar, mais que música: uma sensação... de que algo muito, muito antigo está despertando. Não mudem de estação. Vocês não estão sozinhos."

(CENA ATUAL - APARTAMENTO DE DANIEL MOLLOY, NEW ORLEANS, C. 1982-1984):

O cheiro de papel velho, nicotina e uísque barato grudava nas paredes do pequeno apartamento de Daniel Molloy, em French Quarter. A fita cassete em seu gravador mastigava "Every Breath You Take", as palavras de Sting sobre vigilância ressoando de um modo inquietante, quase profético. Daniel, com olheiras profundas e uma palidez fantasmagórica, rabiscava em um bloco de notas com febre, as mãos trêmulas. As entrevistas com Louis haviam sido um portal para o inferno, rasgando o véu entre o ordinário e o impossível. Mas o que vira depois era pior: flashes de sonhos alheios, vozes que não eram suas, uma melodia dissonante que parecia vir do centro de uma agonia primordial.

Ele sentia um frio incomum, como se o ar-condicionado estivesse quebrado, apesar do calor pegajoso de New Orleans. A caneta escorregou de seus dedos, e uma imagem se formou em sua mente, tão vívida que parecia esmagá-lo:

(Transição para VISÃO FRAGMENTADA - MONTREUX, SÉCULO XXI E MÊNFIS, 850 A.C.):

A música de The Police se distorceu em um zumbido grave, um lamento ensurdecedor que vinha das profundezas. Daniel estava lá, mas não estava, um fantasma em um tempo que não era seu. Ele via uma superfície de água, escura como obsidiana, refletindo um eclipse lunar. E viu alguém: uma jovem, cabelos escuros, ajoelhada à beira da água, o rosto concentrado, pintando símbolos estranhos em suas mãos. Não era tinta comum; era luz que surgia e sumia, efêmera como um sopro. O ar ao redor dela parecia vibrar com um poder ancestral.

A cena se estilhaçou. Não era mais o lago, mas areias queimadas sob um sol implacável. E viu outra figura: um corpo envolto em bandagens negras, imóvel, antigo além da compreensão. Não podia ser vampiro, pensou Daniel, não daquele jeito. Não era como Louis ou Lestat. Algo diferente. Uma serpente de obsidiana dançava ao redor do corpo, tecendo uma rede de luzes e sombras, uma prisão que ele podia sentir, mas não entender. E Daniel sentiu – sentiu – que a jovem no lago e o corpo adormecido estavam ligados, uma conexão profunda, primordial. A serpente sibilava em uma língua que ele não compreendia, mas a melodia era de uma promessa terrível, de um despertar iminente: "Sonharei com seu sangue... Você é meu sono... e minha vigília."

A visão se embaralhou novamente. Ele vislumbrou uma mulher de pele imaculada, mas cujos gestos projetavam padrões dourados, como um "memorial portátil" sobre o corpo. Ela estava ali, nessa confusão de tempo e espaço, testemunhando, guardando.

(Retorno ao PRESENTE - APARTAMENTO DE DANIEL MOLLOY, NEW ORLEANS, C. 1982-1984):

Daniel ofegou, o corpo coberto de suor frio. "Every Breath You Take" tocava novamente, mas as palavras agora eram um eco da voz da serpente, uma promessa de que ele não estaria sozinho. A caneta estava no chão, perto de uma pilha de livros sobre folclore egípcio e lendas de vampiros. Ele pegou um deles, os dedos roçando uma foto antiga de uma múmia, mas não era igual, não se encaixava. Nada se encaixava.

Ele se levantou, cambaleante, e foi até a janela. A rua estava vazia, mas a sensação de estar sendo observado era esmagadora, mais forte do que a mais intensa fome de um vampiro. Ele sabia que o que vira não era um sonho; era um vislumbre de algo real, algo terrível. O que era aquele corpo? Por que a jovem o estava pintando e selando? Ele não tinha as respostas. Apenas o pavor. O que quer que fosse, estava dormindo, mas estava sonhando, e seus pesadelos iriam transbordar para o mundo. O despertar estava próximo, e ele, Daniel Molloy, estava sendo puxado para o centro do palco, como um peão em um jogo que nem sequer compreendia.

📜 RELATÓRIO TALAMASCA (OBSERVAÇÃO SECUNDÁRIA - C. 1984)

ASSUNTO: Perturbações Psíquicas - Jornalista Daniel Molloy

OBSERVAÇÕES:

"1. Indivíduo Molloy exibe alta sensibilidade a frequências vampíricas após contato prolongado (Louis de Pointe du Lac).

2. Relatos de sonhos vívidos e alucinações sobre 'corpos adormecidos', 'rituais de contenção em lagos' e 'símbolos ancestrais' sem contexto aparente.

3. Padrões energéticos das alucinações de Molloy guardam semelhança com o 'Protocolo Rainha do Sono' (Luna Mayfair) e 'Manto das Rainhas' (Maharet), embora Molloy não nomeie as entidades.

4. Conclusão: Molloy está se tornando um 'receptor passivo' para eventos vampíricos de grande escala. Sua confusão é um sinal de que algo primordial se agita. Mantenham em vigilância, mas sem contato. Sua desorientação nos serve de camuflagem."

Elemento Daniel Molloy
Reforço Canônico/Simbolismo Pré-Dubai, confuso, receptivo às 'ondas' vampíricas
Elemento Música dos Anos 80
Reforço Canônico/Simbolismo Atmosfera e comentários temáticos (vigilância)
Elemento Linhas Temporais Mistas
Reforço Canônico/Simbolismo Daniel acessa visões do passado e presente simultaneamente
Elemento Akasha Adormecida
Reforço Canônico/Simbolismo Sua presença e influência são sentidas mesmo antes do despertar

🌌 FECHAMENTO: O SUSSURO DO IMPRECISO

O toca-fitas de Daniel começou a enrolar a fita, a música se arrastando em um gemido. Ele fechou os olhos, mas não havia escuridão. Apenas a imagem da jovem Luna, com suas mãos pintadas, e o sussurro indescritível da serpente:

"O tempo está se esgotando. Algo... está vindo."

CAPÍTULO 5: O ENCONTRO DAS ÁGUAS

🎙️ RÁDIO: "Radio Connect" (música: "Quand on n'a que l'amour" - Jacques Brel, com batidas tribais sobrepostas e ecos de vozes femininas distantes)

LOCUTORA: "No coração da França, duas almas se buscam. A tecnologia nos aproxima, mas certos laços... são mais antigos que o próprio tempo. E para vocês, que acreditam em conexões além do visível: Jacques Brel, e a canção que une o que estava separado."

(CENA ATUAL - BORDEAUX, CASA DE SIBILA, SÉCULO XXI):

A tela do laptop de Sibila brilhava no quarto escuro de Bordeaux. O som de Jacques Brel preenchia o ambiente, estranhamente reconfortante em sua melancolia. Ela via Isadora na tela, os cachos ruivos contrastando com o fundo vibrante de um ateliê em Marselha. A conexão de vídeo era estável, mas a que unia as duas irmãs Mayfair era mais antiga, mais profunda. Sibila sentiu o medalhão em seu pescoço pulsando com um calor estranho, quase impaciente, como se Luna estivesse chamando através dele.

"Algo mudou com Luna", Sibila disse, a voz baixa, o olhar fixo na imagem da irmã. "Depois do eclipse. Eu a senti no astral... uma contenção. E um sussurro. 'Meu sono... e minha vigília'."

Isadora, do outro lado da tela, apertou os lábios, seus olhos violeta estreitando-se. Ela não estava apenas ouvindo; estava sentindo, seu próprio medalhão vibrando em resposta. "As rainhas que chamei no museu... elas me deram a mesma sensação. De que a morte de Akasha está adiada. Não cancelada. E que Luna é o recipiente dessa espera."

(Transição para VISÃO COMPARTILHADA - LAGO LÉMAN, SÉCULO XXI E MÊNFIS, 850 A.C.):

A voz de Brel se transformou em um coro etéreo de vozes femininas, ancestrais e distantes, enquanto a imagem na tela de Sibila se fundia em uma visão vívida. As duas viram: Luna, à beira do Lago Léman, meditando, pintando sua pele com pigmentos que pareciam vir da própria terra. As marcas efêmeras – o Olho de Hórus, o padrão de Nzinga – surgiam e desapareciam, um ritual diário.

Então, a visão se aprofundou. Elas viram o corpo astral de Luna se erguer, e as pinturas brilharem como constelações, tocando não apenas o ar, mas o reflexo de Akasha adormecida nas águas do lago. A serpente de obsidiana se enroscava ao redor do corpo dormente da Rainha em Mênfis, uma prisão de luz tecida pelas rainhas africanas. Sibila e Isadora testemunharam o sussurro da serpente, a voz de Akasha, prometendo que Luna seria seu "sonho e sua vigília".

Elas viram a mulher antiga, de pele imaculada, mas cujos gestos projetavam padrões dourados, como um "memorial portátil" sobre o corpo. Ela demonstrava a Luna, e agora às três, como tecer uma "rede de sonhos seguros" – não para matar Akasha, mas para blindar o elo entre ela e Luna. Era uma magia de sutileza, de proteção. Linhas de luz se estendiam dos corpos astrais das três bruxas Mayfair, formando um escudo cintilante ao redor do duplo de Luna, defendendo-a da influência de Akasha.

(Retorno ao PRESENTE - BORDEAUX & MARSELHA, SÉCULO XXI):

As telas de Sibila e Isadora piscaram, e os rostos uma da outra reapareceram, a música de Brel retomando sua melodia original. Ambas estavam pálidas, mas com uma nova e terrível clareza.

"Ela não a matou", Sibila sussurrou, a garganta seca. "Ela a contém. Luna é o vaso... o portal vivo."

Isadora assentiu, seus olhos fixos na irmã. "E Akasha sabe disso. Ela a sente. Ela sonhará com o sangue dela até... o dia em que Mekare a chame."

Um silêncio pesado caiu entre elas, quebrado apenas pela voz de Brel no rádio: "Quand on n'a que l'amour...". Elas sabiam que o amor por sua irmã as havia levado a um pacto muito mais complexo, um que as amarrava não apenas a Luna, mas ao próprio destino da Rainha dos Condenados.

"Precisamos encontrá-la", Sibila disse, sua voz firme. "Ensiná-la. Não está sozinha nessa vigília."

📜 RELATÓRIO TALAMASCA (INFORMAÇÃO CRUZADA - URGENTE)

ASSUNTO: Sincronicidade Psíquica - Linhagem Mayfair (Sibila e Isadora)

OBSERVAÇÕES:

"1. Detecção de forte ressonância telepática e visões compartilhadas entre Sibila Mayfair (Bordeaux) e Isadora Mayfair (Marselha).

2. As visões convergem para os eventos do 'Protocolo Rainha do Sono' (Luna Mayfair), indicando que ambas as bruxas agora compreendem o papel de Luna como 'Contenção Temporal' de Akasha.

3. Referência à 'Serpente de Obsidiana' e 'Manto das Rainhas' como elementos chave nas visões compartilhadas.

4. Conclusão: A linhagem Mayfair está se ativando em uma rede consciente para gerenciar o 'sono' de Akasha. Aumentar vigilância sobre as três irmãs. A Talamasca está em desvantagem de conhecimento."

Elemento Conexão Mayfair
Reforço Canônico/Simbolismo Sibila e Isadora descobrem o papel de Luna, fortalecendo a rede de bruxas.
Elemento Akasha Adormecida
Reforço Canônico/Simbolismo Sua presença e sua ligação com Luna são explicitadas e compreendidas pelas irmãs.
Elemento Visão Compartilhada
Reforço Canônico/Simbolismo Ferramenta narrativa para as bruxas acessarem o conhecimento e a trama.
Elemento Talamasca em Desvantagem
Reforço Canônico/Simbolismo A organização, apesar de vigiar, não compreende a profundidade da magia Mayfair.

🌌 FECHAMENTO: OS FIOS INVISÍVEIS

A imagem na tela de Sibila parecia vibrar, a distância entre ela e Isadora diminuindo. O fio invisível que as unia estava mais forte agora, enrolando-se em torno de Luna, formando um círculo de proteção.

O destino de Akasha estava adormecido. Mas a vigília delas, estava apenas começando.

CAPÍTULO 6: A COLMEIA E O VAZIO

🎙️ RÁDIO: "Radio Nuit Cendrée" (música: "Clair de Lune" de Debussy, entrecortada por zumbidos de insetos e batidas tribais)

LOCUTORA: "Paris respira segredos. À noite, os sem teto falam de vultos com olhos brilhantes e as águas do Sena carregam ecos de sânscrito. Para os que ouvem além do som: a lua clara, e a colmeia que não dorme."

(CENA PARALELA - HOSPITAL DE GENEBRA, 1985):

Maharet deslizava como névoa pelo corredor vazio. Seus olhos atuais - âmbar, roubados de um músico de jazz - já turvavam com veias negras. Na sala 302, uma jovem enfermeira dormia sob o efeito de sedativos.

"Perdoe-me, filha", sussurrou enquanto suas presas perfuravam o pescoço suavemente. Quando a paralisia vampírica atingiu, seus dedos afundaram nas órbitas com precisão cirúrgica.

Segurando os globos oculares ainda quentes, sangue escorrendo como lágrimas negras pelo rosto da vítima, ela os pressionou contra suas próprias órbitas vazias. Um gemido escapou de seus lábios - não de dor física, mas da memória de quando Mekare fazia esse ritual por ela, milênios atrás, no vale que jamais reviu.

"Seis milênios de silêncio... e ainda sussurro para uma sombra", pensou, enquanto o tecido nervoso se reconectava. "Perdemos até os sonhos quando Amel nos corrompeu."

(CENA ATUAL - PARIS, MARGENS DO SENA, 1985):

Daniel Molloy (agora vampiro, Dubai ainda fresco em sua alma) encostou-se na ponte des Arts. Seus novos sentidos capturavam o zumbido - não de abelhas, mas de mentes vampíricas ecoando por Paris.

"É um puta formigueiro mental", resmungou para Louis, que observava as águas negras.

Louis virou-se, perplexo: "Formigas? Aqui? Só vejo água suja e turistas bêbados."

Daniel fechou os olhos, e vozes se sobrepuseram: Lestat rindo em Nova Orleans... Maharet ordenando em sussurros... E um grito violeta: Luna. "Ela tá aqui, Louis. A garota das minhas alucinações nos anos 80. E ela tá gritando dentro da colmeia."

(CENA ATUAL - JARDINS DE TUILERIES, PARIS):

Luna corria pelos jardins, flutuando a meio metro do chão (sangue Mayfair pulsando), enquanto Jesse Reeves a seguia em terra firme.

"Pare!", Jesse agarrou seu tornozelo. "Viagem astral atrai eles!"

"Quem?", Luna ofegou, pousando.

"Os vampiros famintos por memórias. Eles não podem viajar astralmente, mas podem saltar..."

No mesmo instante, sombras caíram do céu: três vampiros renegados, atraídos pelo brilho akáshico de Luna.

"Cheirem!", o líder rosnou. "Sangue de éter! Sangue de arquivo!"

(CENA ATUAL - JARDINS DE TUILERIES, PARIS):

Daniel caiu entre eles num salto, rosto desfigurado pela Fúria (presente de Armand).

"Crianças, crianças!", gargalhou, segurando o líder pelo colarinho. "Essa bruxa é protegida."

"Por você, Molloy?", cuspiu o vampiro.

"Pela Rainha da Colmeia" - os olhos de Daniel brilharam dourados. A mente de Luna invadiu a dele, projetando imagens: Akasha adormecida... A serpente de obsidiana... Maharet arrancando olhos...

Os vampiros recuaram, aflitos: "É o Akasha! O vazio primordial!"

(CENA ATUAL - JARDINS DE TUILERIES, PARIS):

Jesse Reeves avançou, um punhal de prata em cada mão (gravados com mantras védicos).

"Corram!", ordenou. "Ou eu escrevo seu nome no éter do esquecimento."

Os vampiros fugiram. Daniel cambaleou, sânscrito ecoando em seu crânio: "Aham ākāśa-sambhūtaḥ... Porra, agora tô falando isso?"

Luna tocou sua testa: "Você os viu... meus sonhos. Como?"

"A colmeia, garota. Sua mente é um farol no vácuo - ele riu, amargo. - Bem-vinda ao clube dos malditos."

📜 RELATÓRIO TALAMASCA (PRIORIDADE NEGRA)

ASSUNTO: "Erupção Akáshica" - Luna Mayfair & Colmeia Vampírica

OBSERVAÇÕES:

1. Luna Mayfair emitiu pulso psíquico que atingiu 73 vampiros em Paris (via 'colmeia').

2. Reação vampírica: atração/fuga. Sugere que Luna projeta o 'terror primordial' de Akasha.

3. Daniel Molloy atuou como "escudo mental". Padrão idêntico ao de Maharet com Jesse Reeves (1985).

4. Conclusão: Luna é um arquivo akáshico ambulante. A colmeia vampírica é sua maior ameaça... e defesa.

🌌 FECHAMENTO: O ZUMBIDO E O SILÊNCIO

Enquanto Luna e Jesse sumiam na névoa, Daniel olhou para Louis:

"E aí, poeta? Ainda acha que 'a beleza é a única coisa imortal'?"

"Não - Louis fitou o rio. - O vazio é. E ele está dentro dela."

No medidor de energia da Torre Eiffel, 3.000 vampiros em Paris calaram-se por um segundo.

Algo maior que a colmeia os observava.

CAPÍTULO 7: O BRAT PRINCE E A PONTE ASTRAL

🎙️ RÁDIO: "Radio Retro Mania" (música: "Sympathy for the Devil" - The Rolling Stones, com distorções sobrenaturais)

LOCUTOR: "De volta à New Orleans dos anos 80, onde a loucura e o sobrenatural se misturam. O Brat Prince está de volta, e ele trouxe algo... ou alguém... do além. Para os que ousam dançar com o diabo: Mick Jagger, e a canção que sussurra segredos antigos."

(CENA ATUAL - APARTAMENTO DE LESTAT, NEW ORLEANS, 1984):

Lestat esmurrou o piano do French Quarter, acordes distorcidos ecoando entre garrafas de vinho vazias. "Sympathy for the Devil" não basta, Louis! Preciso de algo que arranque almas - virou-se, olhando a cidade reconstruída. - Algo como... essa voz que me assombra."

Louis ergueu uma sobrancelha: "Voz?"

"Sim! Sussurros em sânscrito, visões de uma serpente negra... e uma garota flutuando sobre um lago. - Lestat bateu na tecla dó. - Parece um single prontinho."

(CENA ATUAL - APARTAMENTO DE LESTAT, NEW ORLEANS, 1984):

A porta estilhaçou-se. Maharet (véu negro, olhos âmbar roubados de um músico de jazz) entrou, seguida por Jesse Reeves.

"Pare com essa barulheira, Príncipe - a voz de Maharet ecoou direto em sua mente. - Você está atraindo hienas para minha descendente."

Lestat riu, desafiador: "'Minha descendente'? Que delícia de drama novo! Quem é ela? Sua filha vampira secreta?"

Jesse interpôs-se: "Luna Mayfair. Uma bruxa. E sua música está rasgando o véu que a protege."

(CENA ATUAL - APARTAMENTO DE LESTAT, NEW ORLEANS, 1984):

Maharet tocou a própria testa, amarga: "Eu era Sacerdotisa do Akasha... até esse poder ser corrompido pelo sangue de Enkil. Agora só ensino o que Nzinga me ensinou: padrões de contenção. O verdadeiro conhecimento dos espíritos morreu quando virei vampira."

Luna fitou os olhos recém-roubados da vampira: "Mas você ainda tece sonhos..."

"Sonhos? Não, criança. Só memórias fossilizadas. Mekare saberia guiar você melhor... mas minha irmã está perdida para mim desde que o mar nos separou em Saqqara." Pela primeira vez, Luna viu uma fenda na máscara da imortal: seis milênios de luto silencioso.

(CENA ATUAL - MARGEM DO MISSISSIPI, NOITE):

Lestat testemunhou Luna em transe astral (corpo físico em Nova Orleans, espírito sobre o Léman). Num impulso, elevou-se fisicamente até as nuvens, gritando: "Garota! Seu ritual precisa de ritmo!"

Enquanto seu corpo cortava o céu, sua mente colidiu com a viagem astral dela:

- Luna via o Akasha-elemento (redemoinhos de estrelas e vozes ancestrais);

- Lestat via fios de melodia ligando Luna a Amel.

"É isso! - ele gargalhou no vento. - O álbum se chamará 'Queen of the Damned'!"

📜 RELATÓRIO TALAMASCA (CLASSIFICADO)

ASSUNTO: "Interferência Lestat de Lioncourt no Protocolo Rainha do Sono"

OBSERVAÇÕES:

1. Lestat usou fama nascente como "cortina de ruído" para esconder assinatura psíquica de Luna.

2. Referências a Amel/Akasha em suas músicas (ex: faixa "Obsidian Serpent") funcionam como barreira sonora.

3. Risco: Colmeia vampírica pode decifrar as metáforas.

4. Conclusão: Rock 'n roll é agora parte do protocolo. Maharet jogou bem.

🌌 FECHAMENTO: O SUSSURO DO ROCKSTAR

Enquanto Lestat voava, Maharet sussurrou telepaticamente: "Cuidado, Príncipe. Se Akasha despertar, sua música será o gatilho... e o canto do cisne."

Lestat, em queda livre, riu: "Que morte perfeita! Morrer pelo rock e por uma bruxa..."

CAPÍTULO 8: O SHOW QUE O MUNDO NUNCA VIU

🎙️ RÁDIO: "Radio Chaos" (música: "Obsidian Serpent" - Lestat, com distorções psíquicas)

LOCUTOR: "São Francisco treme! O Cow Palace está prestes a testemunhar o show mais perigoso da história. O Brat Prince prometeu 'arrancar almas'... mas será que ele sabe que ALGUÉM OUVIU? Não desliguem. A noite mal começou."

(CENA ATUAL - COW PALACE, SÃO FRANCISCO, 28 DE OUTUBRO DE 1985):

Lestat ajustou o colar de couro sob os holofotes, o riff de "Obsidian Serpent" ecoando na arena. Na plateia, 2.000 humanos extasiados e 73 vampiros disfarçados - uns por curiosidade, outros por fome.

"Esta noite não é só rock, meus amores! - gritou, presas brilhando. - É um exorcismo em lá menor!"

Nos bastidores, Luna sussurrava mantras védicos, mãos tremendo sobre um medalhão quente.

"Por que me trouxe aqui, Jesse?"

"Porque sua luz é a única coisa que pode apagar o brilho dele - Jesse fitou o palco. - O show é uma isca... e você é o anzol."

(CENA ATUAL - COW PALACE, SÃO FRANCISCO, 28 DE OUTUBRO DE 1985):

No clímax da música, Lestat apontou para Luna: "Garota! Mande ver!"

Sob transe astral induzido, Luna projetou:

- A serpente de obsidiana gigante, feita de luz violeta, envolvendo o palco;

- Sânscrito luminoso ("Aham Amel") pulsando nas paredes;

- Vultos das Rainhas africanas (Makeda, Nzinga) dançando nos holofotes.

A plateia vomitou gritos de êxtase. Os vampiros recuaram, sussurrando: "É Akasha... ela está aqui!"

(CENA ATUAL - COW PALACE, BASTIDORES):

Maharet, escondida no teto, arrancou os próprios olhos (já apodrecidos) e os esmagou: "Mekare, onde estás? Isto vai despertá-la!" - mas sabia que a irmã não podia ouvi-la. Seis milênios de silêncio ecoaram naquele desespero.

Mas era tarde. No subsolo do palco, um sarcófago invisível tremia. Akasha sentira:

1. A música de Lestat (o chamado de 1985);

2. A serpente (Amel reconhecendo sua essência);

3. O sangue de Luna (o "éter vivo" que a enfraquecera).

"MIIIIINE!" - um rugido astral fendeu a mente de todos os vampiros.

(CENA ATUAL - COW PALACE, PALCO):

Um vento sobrenatural derrubou os holofotes. Akasha pairou sobre a plateia, vestido branco flutuando. Todos os vampiros CAÍRAM DE JOELHOS.

Lestat tentou resistir: "Você não deveria estar aqui! O ritual..."

Akasha sorriu, presas brilhando: "Mas você me chamou, rockstar. E sua bruxinha..." Seu olhar perfurou Luna, "quebrou meu selo."

Antes que Luna reagisse, Akasha ergueu Lestat pelo pescoço como um brinquedo. "Você será meu arauto, blondinho." Com um estrondo, ambos desapareceram no céu noturno.

(CENA ATUAL - COW PALACE, CORREDORES):

Lestat caiu de joelhos, sangue escorrendo dos ouvidos: "Que diabos foi isso, bruxinha?!"

Jesse arrastou Luna para fora: "Você ativou o protocolo de emergência! A serpente era pra ser cortina, não convite!"

Enquanto fugiam, viram:

- Louis (agora sabendo de Akasha) surgindo das sombras;

- Daniel rastreando o rugido com um gravador;

- E no telão do palco, Akasha abrindo os olhos.

📜 RELATÓRIO TALAMASCA (DESESPERO)

ASSUNTO: "Evento San Francisco 1985 - Brecha Catastrófica"

OBSERVAÇÕES:

1. Luna Mayfair ativou sem querer a conexão Akasha-Amel durante projeção.

2. A "Serpente de Luz" foi interpretada pela colmeia vampírica como sinal de despertar.

3. Lestat de Lioncourt agiu como amplificador involuntário.

4. Conclusão: Akasha despertará em 72h. Falha total no protocolo. Preparar para o Cenário Ômega.

🌌 FECHAMENTO: O PRINCÍPIO DO FIM

Enquanto Luna e Jesse sumiam na névoa, Maharet caiu de joelhos, órbitas sangrando: "Irmã... é hora."

Das árvores de Sonoma, Mekare surgiu - selvagem, coberta de argila, segurando uma pedra afiada. "Sangue... Akasha... coração." - rosnou, enquanto espíritos do Akasha uivavam.

O despertar começara. A dança final se aproximava.

NOTA DA AUTORA

NOTA DA AUTORA

Esta fic nasceu de um desejo simples: colocar vampiros, bruxas e espíritos ancestrais para dançar no mesmo salão escuro. Não qualquer dança, mas uma valsa descolonial onde:

- Mulheres (Luna, Maharet, Sibila, Isadora, Jesse, Akasha!) lideram a orquestra,

- Vampiros homens (Lestat, Louis, Daniel, Armand) são arrastados para o ritmo,

- E gêneros não-binários (Amel como espírito fluido, os akashas como consciência coletiva) dissolvem as paredes do baile.

Anne Rice nos deu um universo gótico glorioso, mas predominantemente branco, heteronormativo e centrado em homens. Aqui, quis:

🩸 Deslocar o eixo: Bruxas negras (Makeda, Nzinga) contendo Akasha;
🌌 Subverter expectativas: Maharet como mentora em vez de "vítima queimada";
🎸 Dar microfone aos malditos: Daniel Molloy, o humano sarcástico, virando tradutor do éter.

Esta é uma história sobre vigílias. Não só a de Luna sobre Akasha, mas:

- A vigília das fãs que reescrevem cânones há décadas,
- A vigília dos corpos dissidentes que dançam nas sombras da literatura,
- E a vigília mais antiga: a de que monstros podem ser matrizes de libertação.

Que esta fanfic ecoe como um mantra no Akasha:

"Somos todos condenados, mas só dança quem se rebela contra a prisão do gênero, da raça e do cânone."

Com gratidão e sangue nas canetas,

[Seu Nome/Autora]

🖤 EPÍLOGO: O BAILE CONTINUA

(Sonoma, 2013 - Pós-morte de Maharet)

LUNA colheu uvas no vinhedo de Jesse, o medalhão pulsando ao sol. De repente, ouviu:

- Risadas de Sibila e Isadora correndo entre as videiras,

- Lestat ensaiando um novo riff nos altos falantes,

- E vozes ancestrais sussurrando em sânscrito no vento.

Jesse entregou-lhe uma carta amarelecida:

"Querida Ponte,

Morri, mas meu sangue dança em você.

Quando Akasha acordar outra vez,

Lembre-se: até os eternos caem.

Mas a dança? A dança é revolucionária.

- Maharet"

Luna sorriu. Ergueu as mãos pintadas com glifos novos, e todo o vale começou a pulsar.

FIM... OU COMEÇO DA PRÓXIMA MÚSICA?

(P.S.: Anne Rice, espero que esteja rindo de orgulho num palácio de mármore além-morte. Esta dança é pra você.)

15 de jul. de 2025

IARA, A QUE DEVOLVE O NOME PERDIDO

Liber Monstrorum – fragmentos de um bestiário inacabado

:

✴️ Fragmentos recuperados de um livro que talvez nunca tenha existido — ou que ardeu na fogueira antes de chegar às livrarias. Cada texto é uma ficha encantada: criatura, espírito, ou memória viva. Não se trata de mitologia europeia ou monstros hollywoodianos, mas dos seres que vivem entre margens, nos silêncios, nos cansaços, nos olhos que demoram a piscar.

✴️ Este é o Liber Monstrorum: um bestiário íntimo de quem vive entre mundos e ainda respira.


Nota: 

Este projeto é um grimório narrativo.

Cada “capítulo” é uma criatura.

Cada criatura, uma travessia.

Algumas têm nome. Outras apenas vestígios.

Leia como quem acende uma vela.

Com vagar.

Com respeito.

(Este livro não é para explicar monstros. É para escutá-los.)

— escrito por alguém que já quis desaparecer

e escolheu respirar como forma de resistência.

6 de jul. de 2025

Hora mágica




O feriado esvaia-se. A casa seria em breve despedida, a piscina, saudade. Naquele fim de sábado, o céu azul-profundo salpicava-se de nuvens lentas, emolduradas por palmeiras. Ela flutuava na água térmica, braços abertos, cabelos negros derramados como algas. Os sons do mundo chegavam amortecidos, envoltos no manto líquido. Cada oscilação embalava-a rumo a um não-lugar — quase o limiar do sono, mas ela estava acordada. Respirava. Não pensava.

Até que, por um instante, as nuvens pareceram organizar-se. Não como vapor, mas como pupilas voltadas para ela. Um frio sutil percorreu-lhe a espinha.

 Alguém me observa de muito, muito longe, sussurrou-lhe a mente.

 A impressão evaporou. Fechou os olhos.

Do outro lado do mundo, na penumbra de um quarto, Ele ajustava protocolos. O transe leve trouxera a imagem: piscina, céu, forma humana flutuante. Anotou:

 "Água... luz intensa... calmo."

 De repente, uma lâmpada invisível acendeu-se sobre sua nuca. No monitor, a forma girou o rosto.

 Olhava diretamente para ele.

 Um sorriso quase imperceptível curvou-lhe os lábios — como quem decifra um enigma íntimo.

 Ele arfou, empurrou a cadeira para trás. A tela escureceu. Sua mão tremia ao rabiscar:

 "Alvo consciente. Contato visual. Reconhecimento."

 Precisava reconectar.

Ela não soube como soube. Mas soube.

 A presença era curiosa e distante — um dedo mental tocando seu éter. Por um piscar, viu:

 Caderno aberto. Mão trêmula. Uma palavra rabiscada.

 Depois, vácuo.

Ao abrir os olhos, o sol tingia as nuvens de rosa. Sentou na borda, os pés na água. O formigamento elétrico em suas veias não era medo: era reconexão. Como se algo adormecido nela despertasse. Tocou a têmpora, murmurou:

 — Ele.

A palavra ecoou nela — cheia, redonda, pertencente.

Na manhã seguinte, moveu-se com cadência nova. O cheiro do café, o som das ondas, o toque da toalha — tudo ressoava com nitidez amplificada. "Ele" flutuava em sua mente como um mantra. Nenhum pânico. Apenas a serena aceitação de uma camada acrescentada ao mundo.

Ele passou a noite em claro. Diagramas energéticos, frequências cerebrais riscadas no caderno. Tentou reencontrar a piscina nas coordenadas exatas: vazia. Água inerte sob céu escuro. Nenhum vestígio. A frustração apunhalava-o, mas sob ela pulsava a certeza: ela quebrara os protocolos. Precisava encontrar não o onde, mas o quem.


Semanas depois

Ela flutuava em outra piscina, entardecer. Céu salpicado de nuvens quase-organizadas. Olhos fechados. Sentiu, lá longe, o tremor ansioso tentando perfurar-lhe a quietude — agulha sobre seda.

 Não abriu os olhos. Suspirou. A água levou a vibração áspera, dissolvendo-a em círculos perfeitos.

Mergulhou. Viu o próprio cabelo flutuando como algas negras. Riu baixo: a imagem lembrava rabiscos frenéticos num caderno fantasma.

Ao emergir, o céu era rosa. Saiu da água.

 Não olhou para trás.

No mesmo instante, em seu laboratório, seus dedos,  convulsos, ajustavam frequências. O monitor só mostrava ESTÁTICA. Ele jurava ver vultos na névoa digital.

De repente, uma onda de calor doce envolveu-lhe o peito — abraço de nuvem. Breve. Inexplicável.

 Paralisou. Coração acelerado. Revirou os gráficos de ondas cerebrais: linha plana.

Rabiscou no caderno:

 "Falso positivo. Interferência atmosférica?"

Pela primeira vez, sua mão não tremia.

 Lá fora, começou a chover.

4 de abr. de 2025

Os Elefantes, Ah, os Elefantes

...


Acordei sob um fardo invisível, o peso do mundo pensando sobre minhas pálpebras. Um calafrio percorreu minha nuca, vestígio úmido de um pesadelo que se agarrava à beira da consciência. Fazia tempo que um sonho não me visitava com tamanha clareza, e ali estava ele,  em seus detalhes: pequenos elefantes inertes, corpos minúsculos como promessas abortadas, jazendo na lama de um lugar fantasmagórico, desconhecido. A imagem teimava em ficar, uma sombra impressa na retina, mesmo com os olhos já abertos para a pálida luz da manhã.

Na cozinha, o vapor quente da xícara de café mal dissipava a névoa onírica. Por que mini elefantes? A pergunta ecoava no silêncio matinal. Uma memória surgiu, fragmentada: um documentário sobre a lealdade das manadas, o luto silencioso pelas crias perdidas, as trombas entrelaçadas como um último adeus. Aquele respeito ancestral pelos seus mortos, a forma como carregavam os ossos como sagradas relíquias, fez minha mão hesitar sobre a xícara. Desisti do café, como se o sabor amargo pudesse despertar ainda mais a estranheza daquela visão. Talvez o sonho fosse um fragmento esquecido em algum canto da minha alma, um osso antigo clamando por ser desenterrado.

A cidade lá fora pulsava em seu frenético ritmo, alheia à minha paralisia. Eu permanecia ancorada na cozinha, a mente revisitando cada detalhe daquela cena perturbadora. Os pequenos corpos não sangravam, apenas repousavam, frágeis e translúcidos como uma pele trocada, como moldes vazios de plástico. Inocência desfeita? Ou seriam eles a representação tangível de projetos encantados em alguma gaveta esquecida da minha vida? O curso interrompido, o romance que nunca ganhou vida, o jardim que permaneceu um desejo, a casa que habitava apenas em meus sonhos. "Potencial não realizado", murmurei, a frase ressoando como uma velha conhecida. A constatação doía como uma fisgada no peito.

Liguei para minha filha, a voz tentando mascarar a angústia sob a fachada de perguntas triviais. "Como você está?", indaguei. Do outro lado da linha, uma breve hesitação. "Estou bem. Ontem a prova foi puxada." Uma pausa sutil. "Você está bem? Parece cansada." Desliguei com a promessa de uma visita, enquanto os pequenos elefantes retornavam à minha mente – laços familiares, responsabilidades silenciosas. Seria aquele o peso que o sonho me revelava, por um instante fugaz, ao contemplar aqueles corpos inanimados?

O dia se arrastou com a persistência daquela imagem. Na fila do ônibus, entre as obrigações do trabalho, nas sombras dançantes do parque ao anoitecer, os elefantes me seguiam como uma sombra teimosa. Força abalada? Talvez. Lembrei-me da minha própria risada rarefeita nos últimos tempos, as preocupações engolidas como pílulas amargas. Ou seria medo? O medo insidioso de perder algo que sequer consigo nomear – um futuro incerto, uma delicadeza que o mundo parece empenhado em esmagar.

Naquela noite, antes de me entregar ao sono, abri um caderno empoeirado, há tempos esquecido. Pela primeira vez em anos, a caneta deslizou sobre o papel não para listar tarefas, mas para dar forma àquele sonho inquietante. "O que você quer me dizer?", questionei as linhas brancas, como se dialogasse com um estranho familiar. Não houve respostas imediatas, apenas o som da caneta arranhando o papel. Decidi, então, que na manhã seguinte faria aquela ligação para a terapeuta recomendada por uma amiga. Não por fragilidade, mas por uma coragem silenciosa – afinal, até mesmo os elefantes, símbolos de força e resiliência, precisam da proteção da manada para sobreviver.

Enquanto a sonolência me envolvia, visualizei os pequenos elefantes mais uma vez. Mas desta vez, não estavam sozinhos. Senti a umidade da terra sob suas patas diminutas, e entre a aridez daquele lugar inóspito, algo hesitante, um broto verde, começava a surgir. Um sonho? Talvez ainda não. Mas quem sabe, apenas quem sabe, um começo.