27 de mai. de 2009

Palavras não ditas.




Foi no exato momento em que desceu do velho ônibus barulhento que as luzes apagaram-se na cidade. Sabia que deveria apressar o passo e sair da rua, antes que fosse assaltada de novo,mas a noite estava tão bonita e as estrelas surpreendidas pela liberdade que o súbito apagão lhes dera,brilhavam mais intensamente.

O Cruzeiro do Sul, as Três Marias e um monte de outras formas que ela não sabia identificar, mas entre elas vindo com o vento que lhe agitava os cabelos vinha um sorriso que ela conhecia bem.

Pensou vagamente que aquela sua lua em câncer ainda lhe daria problemas depois sorriu também e sabia que de algum modo sorriam juntos naquele momento.

Ficou bem quieta e murmurou as frases que não pretendia dizer de outra forma depois afastou os resquícios de luar e de estrelas, virou o rosto na direção de casa e tentou ignorar o mar de estrelas em que sorriso nadava.

Longe dali ele ficou quieto, resmungando as respostas depois espanou aqui e ali os cacos das palavras não ditas com um gesto seguro e distraído, e elas caiam tilintando pelo chão. Pegou o copo a sua frente e bebeu devagar, ajustando os olhos ao seu mundo que parecia ficar estranhamente fora de foco em noites assim.

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