29 de ago. de 2010

Conexão




Ouviu nitidamente o chamado. Era intenso e persistente, feito de imagens dela mesma, vindas da cabeça dele. Imagens misturadas ao seu nome, às coisas que havia dito. Aquilo durou toda a noite, não conseguia fugir do incessante fluxo que a conectava ao desespero do outro. Ela não entendia porque ele lhe enviava esses recados mentais. Pensou que talvez ele nem percebesse o que fazia e ela recebia apenas por ter aquele maldito dom.

Afastou as imagens com gestos aborrecidos e tentou encerrar a conexão ergulhando no trabalho. Funcionou, ao menos por algum tempo.

Na hora de dormir as imagens voltaram, somadas agora a uma sensação de urgência, como se ele precisasse de ajuda e pensasse nela para fugir do desespero.

Disse a si mesma, repetidas vezes que aquilo era bobagem, tentou ignorar o chamado o que serviu apenas para torná-lo mais forte, por fim, enquanto se dizia tola por acreditar em tais bobagens a dúvida aconteceu. Insidiosamente um imenso “E SE...” formou-se e ela pegou o telefone discou o número dele,aquele que raramente usava e quando ele atendeu,percebeu no tom de voz que o chamado era real.

▬ Alô... Alô?

Ela não respondeu, nem mesmo quando ele disse seu nome. Sentiu-se tola por ligar. A ligação estava perfeita, nenhum chiado, nenhuma estática. Ouviram o silêncio um do outro por algum tempo, cerca de um minuto, depois ela desligou. Ele continuou a enviar as imagens, ela olhou para o rosto machucado e tentou ocupar-se, afastar os pensamentos daquela conexão.

2 comentários:

  1. Já me senti assim...
    A questão é que para mimñão foi fácil discar o telefone. Nem telefones serviriam pra tal contato.

    Te adoro, desculpas!

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  2. Nem sei pq está pedindo desculpas. Te adoro.

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